Vale das Mós
Vale das Mós, o nome desta povoação está com certeza ligado à existência de muitos moinhos na zona, alguns dos quais ainda aparecem sob vestígios mais ou menos degradados. Mas a lenda fala do momento preciso em que Vale das Mós passou a existir como tal. Assim, conta-se que em tempos, havia na zona um moleiro que era muito bom a picar mós. Um dia deslocou-se aqui um homem de outra terra para falar com o moleiro que picava as mós. Perguntou onde morava o moleiro e alguém lhe indicou o cimo do vale. A partir desse dia esse homem passou a referir-se ao local como Vale das Mós; o nome “pegou” e chegou aos nossos dias.
Ano 1992, local: Vale das Mós, Colector Edgar Espadinha
A Fonte dos Mingases
No Casal dos Mingases, perto de Vale das Mós, havia uma capela onde o padre Caetano costumava dizer missa. Perto do local construíram urna fonte e resolveram fazer na fonte três nichos. No do meio puseram a figura do padre e ao seu lado puseram as figuras de duas santas: a Santa Rita e a Santa Quitéria. Diziam que, por isso, a fonte tinha poderes e algumas pessoas que por lá passavam faziam pedidos e deixavam dinheiro. Certo dia, o dono das terras, homem muito ambicioso que não vivia ali, mas soube da história do dinheiro, perguntou ao rendeiro onde é que as pessoas costumavam pôr o dinheiro das promessas. O rendeiro não teve outro remédio senão dizer-lhe. Conhecendo o segredo, dispôs-se ir á fonte roubar o dinheiro. Mas qual não foi o seu espanto quando, ao chegar ao local, só lá estava, em vez do dinheiro, um bocado de pão. Diz-se também que é junto a esta fonte que foi enterrado em tempos, um pote com mil libras de ouro e um outro com azeite, que entretanto se transformou em veneno e mata quem se aventurar a desenterrar o pote de libras.
Ano 1992, local: Vale das Mós, Colector Edgar Espadinha, Informante José António Cupertino, 80 anos.
O Borrego Negro
Certa noite, dois rapazes cá do Vale das Mós, foram a um baile à Esteveira. Lá andaram algumas horas e, já alta noite, regressaram a casa. Vieram a pé, como era hábito naquele tempo, e já quase a chegarem ao Vale das Mós, viram, numa horta, um grande borrego negro. Um dos rapazes, que era todo vivaço, dispôs-se logo a apanhá-lo, mas o colega, temendo, disse:
— Olha que isso pode não ser boa coisa! Mas o outro não quis saber e correu a apanhar o borrego. Já quase junto do bicho, tirou a cinta que usava à cintura e atirou-lha ao pescoço. O animal soltou-se com uma facilidade espantosa e deu ao rapaz um valente coice que o atirou para longe dali. O borrego desapareceu e os dois amigos, amedrontados, fugiram dali. No dia seguinte, ainda um pouco a medo, voltaram ao local e a cinta lá estava, mas toda cortada em tiras.
Ano 1993, local: Vale das Mós, colector Edgar Espadinha.
O Burro
Um dia, um homem ia a descer uma barreira e viu um burro a pastar. O homem estranhou: um burro ali sozinho, sem estar preso a nada... Teria fugido? Foi-se aproximando, devagarinho, tirou a cinta, prendeu-o e montou-se nele. Ainda não estava bem montado quando o burro deu três coices e o homem caiu ao chão. Levantou-se rapidamente, mas o burro tinha desaparecido. Sem o burro e sem cinta e matutando naquele estranho desaparecimento, o homem lá continuou o seu caminho. Alguns dias mais tarde, o mesmo homem vai a uma taberna e vê a sua cinta pendurada num prego. Diz ao taberneiro: — Essa cinta é minha, como é que ela veio aqui parar? O taberneiro olhou para ele e disse-lhe: — Tome lá a sua cinta, mas quem vai, vai e quem está, está!
Ano 1993, local: Vale das Mós, colector Inês Fundeiro.
Os Mouros da Pedra da Lapa
Perto de Vale das Mós existe uma grande pedra, designada como Pedra da Lapa. Ali, diz a lenda, viveram os mouros há muito tempo atrás. Junto ao solo podem ver-se os buracos, por onde os mouros entravam. Ainda hoje, nas noites de luar, costuma aparecer ali uma linda moura que fala, enquanto penteia os seus longos cabelos.
Ano 1993, local: Vale das Mós, colector Edgar Espadinha.
Partidas de Bruxas (1)
Havia uma rapariga que costumava ser atormentada por três bruxas, uma das quais era sua conhecida. Essa costumava dizer-lhe: «se me descobres, mato-te». E a pobre rapariga Já ia vivendo com o seu martírio. Uma noite, estava ela deitada, as bruxas chegaram e deitaram-se em cima dela; ela tentou chamar a mãe, mas não conseguia falar. Ainda ouviu elas dizerem: «vamos pô-la debaixo da arca». O que lhe fizeram não soube, mas qual não foi o seu espanto quando, na manhã seguinte, acordou dentro da arca.
Uma outra vez, essa mesma rapariga, estava à noite a namorar. Estava sentada à lareira com o namorado, não as via, mas sentia as bruxas que partiam a lenha e a punham no lume. A rapariga já estava habituada àquelas coisas e já nem ligava.
Ano 1993, local: Vale das Mós, colector Inês Fundeiro, informante Maria Virgínia, 72 anos.
Partidas de Bruxas (2)
Um dia, ao anoitecer, um homem foi armar uns ferros para apanhar uns coelhos num terreno que ficava perto da sua casa. Feito o trabalho, regressou e deitou-se na cama, disposto a descansar. Mas logo que se deitou chegaram as bruxas para o chatear. Faziam-lhe cócegas, riam-se... e o homem, que já estava habituado àquelas coisas, tapou-se todo com o fato e não lhes ligou. Desiludidas, as bruxas foram-se embora, mas não desistiram. Foram para o campo onde o homem tinha armado os ferros e começaram a imitar os coelhos que caíam nas armadilhas. Mas mais uma vez não levaram a melhor, pois o homem, que era muito entendido em bruxas, também percebia de coelhos e sabia que ainda era muito cedo para eles começarem a cair. O homem continuou na cama e adormeceu e as bruxas não tiveram outro remédio senão ir à procura de outro, pois este não se impressionava com partidas de bruxas.
Ano 1993, local: Vale das Mós, colector Edgar Espadinha.
Partidas de Bruxas (3)
Havia um homem que era sardinheiro. Em certos dias da semana, de madrugada, tinha de ir buscar as sardinhas à estação. Um dia quando ia a caminho, viu no meio do campo um baile. Aproximou-se e viu que eram as bruxas. Conheceu lá umas que eram da sua terra, e estas disseram: — Se contares a alguém que nos viste aqui, matamos-te! O homem foi-se embora e ia tão atormentado que, logo à primeira pessoa que encontrou contou o que lhe tinha acontecido. E mais, contou também que tinha conhecido algumas das bruxas e revelou quem elas eram. No dia seguinte, o sardinheiro não aparecia, os fregueses começaram a estranhar a sua demora e foram ver o que se passava. Quando o encontraram, ainda na cama, estava enforcado e já morto.
Ano 1993, local: Vale das Mós, colector Inês Fundeiro, informante Maria Virgínia, 72 anos.